sexta-feira, 16 de maio de 2008

Sol, Flamenco e Seats - Alhambras, por supuesto

Quatro dias de desbravamento dessa Espanha, dessa Costa del Sol.

Dia 1 – Literalmente, 1 de Maio, quinta-feira

O dia começou às nove e tal da manhã da quarta-feira. Porque, estando a saída prevista às duas da manhã, nem me dei ao trabalho de adormecer.
As directas preocupam-me (tive sempre os momentos mais estúpidos debaixo do efeito de directas).
Soou-me a má ideia – MUITO má ideia. O sono serve-me como elixir de sanidade. É coisa que pura e simplesmente não devia dispensar.
Enfim. Decidi que talvez durma no autocarro. Talvez.

O meu “diário de viagem” – coisa de menina, que sempre gostou de fazer isto ainda que, agora, já não marque todas as terrinhas uma a uma – regista o seguinte

02:00 Noite fria de Abril, céu limpo, estrelas bem seguras (eram duas da manhã, a gosma nem-sequer-matinal dá-me para certos disparates).
02:10 Brevíssimo compasso de espera pré-partida.

02:15 Retiro o brevíssimo.
02:20 Retiro o compasso.
02:25 Partida das Covas de Ferro

Malas arrumadas (ah, a minha beleza cor-de-rosa), autocarro ronronante, alguns já arrumados nos lugares e a ressonar, partimos. A noite estava, realmente, bem escura. Não vi nada do caminho até às

02:55 Sobre a PVGama.
03:50 A6 – 117 km para Espanha. Área de serviço da malta de Montemor-o-Novo a 10km.
04:00 Moooooontemor!!!

05:35 Essa grande terra, Badajoz.
Já disse que não gosto nada de caramelos? Não? Fica dito. Seja como for, a manhã já despertou em Espanha
Acordei de um sono de faz-de-conta com uma madalena de chocolate no nariz. É maravilhoso ter aniversariantes no grupo.

07:45 Depois de falsa paragem em Zafra (falsa porque esta malta não tinha bolinhos – note-se que em Espanha já eram 08:45), paragem já fora e longe de Zafra no restaurante de beira de estrada Los Rodriguez. Dentro de Los Rodrigues o ar tinha qualquer coisa de tabaco, fumeiro, vinho tinto com uma leve nota a cavalo. Apesar disto, deu para tomar o pequeno-almoço, começar a perder dinheiro nas slots e assistir ao evoluir da espécie “matarruanus hispanholis”. Esta espécie consegue, às oito e meia da manhã, fazer a curva e num bonito pião com efeito de pó estacionar o tractor à porta da tasca. Sem que a boina caqui ao quadrado verde mexa.

08:00 Saída de Los Rodriguez.

09:20 Saída da (caótica) Sevilla – chegada não registada devido à impossibilidade de conjugação desse registo com as propriedades do sono. Solzinho magnífico.

Ainda assim, devo dizer que Sevilla me pareceu muito menos apocalíptica do que da última vez. Verdade seja dita, da outra vez estávamos em plena Feria de Sevilla e aquilo era um fluir de sevillanas e coches – em ambos os sentidos ibéricos da palavra – que tinha qualquer coisa de Apocalipse próximo. Ainda assim, foi bom acordar em Sevilla a bater com a testa no vidro, a desconfiar de um possível ressonar e a dar com os olhos num outdoor do Media Markt (“yo no soy tonto!”).

10:00 Paragem no ENORME El Caserio de Aguadulce.
Mais um restaurante de beira de estrada. Mas ENORME. Com mini-praça de touros, três lojas de regalos, umas enormes (e tão badarjonas) casas-de-banho, um gigantesco espaço com mesas e uma monstruosa cafetaria. Ah. E um piquenissimo museu.

10:55 Saída do El Caserio de Aguadulce. <- hora portuguesa


[Anotação pela mano do mano]

Faltam 117 km <- não sabemos para onde, mas é o que está no GPS.


11:11 Faltam 100 km.
Viajamos a 100km/h.


100km ____ 1h
100km ____ x
x=1h

1h ____ 3600s
1h ____ x
x= 3600s


Falta uma hora para chegar.
11:17 Chegada à província de Málaga. Muitos montes e muitas oliveiras. É só montes, montes, montes…o extraordinário é serem tão bonitos. Curiosamente, por esta altura, notei a falta de alguma coisa na paisagem. Não sabia bem o quê – só sabia que faltava qualquer coisa. Ao fim de dez minutos de aturada meditação e concentração nos montes, nas oliveiras e nos passarinhos percebi o que estava ali em falta– moinhos de energia eólica. Obrigado José Sócrates.

Português que é português, português que se preze, quando parte no aproveitamento de um feriado para fim de semana prolongado para o sul de Espanha, onde é que fica? Torremolinos, bien sûr. Na verdade, para a grande parte do grupo não foi um ficar, mas um regressar. Já lá tínhamos ficado em 2006.
O trânsito está infernal. Não sei quanto tempo passamos aos soluços mas decidi ler. Depois da experiência deprimente do ano passado em que o livro ficou esgotado logo à primeira hora e depois de ter prometido que este ano traria Tolstoi, trouxe Hemingway. Hemingway bom, Hemingway bonito, Hemingway má ideia quando a ideia é dispersar e esquecer o mau humor do resto do ano. Raios. Nunca acerto nas leituras para mim – e atenção que sou muito boa a acertar leituras para os outros. Sapos, sapos, sapos e mais sapos.

12:50 Depois de muito trânsito de fim de semana (prolongado) chegada a Torremolinos. Passagem à hora espanhola, i.e., são 13:50. Até agora só vi Mercedes, Audis e BMWs. E um ou outro Seat, dos brilhantes e bonitos.

13:00 Chegada ao Hotel. Atirar convicto do Adeus às Armas para dentro da minha Rosa Amália, para aí ficar até ao regresso a Portugal. O Pedro, o habitual conducente dos nossos destinos (expressão mai’ linda…), comenta qualquer coisa sobre o hotel. Fala, fala mas nunca nos diz o nome do hotel. O nome do hotel é um segredo bem guardado até à chegada.

Quatro estrelas, senhores. Um luxo.
Bem. Não tão luxo quanto seria de esperar para quatro estrelas. Mas razoavelzinho, bem bom.
Além do mais, não é todos os dias que nos atribuem apartamentos em vez de quartos.

15:00 Fim do almoço. Partida à descoberta dos quartos. Apartamentos quase com vista para o mar. Há vista para as piscinas. AS. Nenhuma delas parece ser do hotel. Tudo bem.
Desde o ano em que a vista da janela do hotel era uma fábrica de conservas – cheiro e tudo – que todas as vistas me parecem bem.

Gostei do nº do quarto de hotel.

Tenho uma predilecção pelo 12 e simpatizo com capicuas. Como há gente que acredita no horóscopo ou que leva sempre o mesmo cachecol do Benfica aos jogos europeus (levava). Eu é o 12.
Não era fácil chegar aos apartamentos.
Os elevadores, obrigaram-me a logo ao segundo dia percorrer sempre os dois andares a pé. Digamos que o segurança estava sempre a postos com as chaves inglesas e os martelos e essa tralha toda. Que carregávamos no botão de alarme e lá aparecia ele, com o cinto das ferramentas a postos, em passo rápido e a puxar as calças que lhe caíam com o peso do cinto. E os sacanas dos irlandeses logo no primeiro dia, muito divertidos, a oferecerem o segundo elevador. O avariado. E eu recusar, mas embevecida com a delicadeza. E à espera do que está prestes a acontecer. Irlandeses. Não me enganam.
E depois quem entrou, fechou as portas. E depois o botão de emergência. E depois abriram as portas e ainda lá estavam. E eu divertida, a pensar como era mesmo previsível. E depois o senhor das calças azuis a puxá-las.
E os irlandeses muito bem dispostos a finalmente sairem dali, no primeiro elevador, o mais-ou-menos-bom. E o mano, irritado com a brincadeira, a pegar na mala e a subir os dois andares aos quatro degraus. E os irlandeses a chegarem ao segundo andar, as portas do elevador abrem-se e dão com o mano, dignamente sentado em cima da mala, a fitá-los muito sereno. x) Lindo =')
E ao regressar do apartamento...Imaginem no cubo de 1m x 1m que era o espaço do elevador, fechar as portas, carregar no zero, o elevador não se mexer, ao fim de uns segundos carregar para abrir as portas, ele estremecer e voar até ao rés-do-chão. Nah. Nem pensar. Escadas que é para exercitar estas perninhas. E obrigar sempre toda a gente a parar no primeiro piso, claro. =D. Aquele botãozinho era demasiado tentador.

16:15 Piquena siesta no hotel. Também é fim de semana alargado em Espanha. Torremolinos, para variar um bocadinho, ferve de espanhóis. Estive a ver televisão na hora da siesta – previsão de tempo nublado para amanhã. I.e, farrusco. ^^
O comando da televisão é brutal. Uma espécie de rato óptico mas em comando manhoso. Quatro teclas e é se eu quiser.
À tarde, ameno passeio por Torremolinos. Praias cheias. Ao que parece hoje saíram à rua em Espanha 6 milhões de Audis, Mercedes, BMWs e Seats.
Descemos para as praias pela escadaria vermelha das dezenas de lojinhas – a mesma por onde acabamos por voltar a subir.
À descida, numa das lojinhas com as duas jovens responsáveis da loja à porta, o poderoso sistema de som espalhava The Final Countdown pela rua. Cantarolei bem alto e com sentimento à fadista (* agaaaain... it’s-THE-FI-NAL-COUNT-DOWN! finunun finununtan*), ri e mandei a minha chalaça para quem quis ouvir (uuh..the final countdown…muito à frente que nós estamos senhores hermanos da gente).
Não me lembrei que havia sempre essa possibilidade de ter de lá voltar a passar.
Enquanto subia os degraus, lembro-me distintamente de me ter assegurado que nenhuma delas segurava um taco de baseball antes de avançar pelo meio do bloqueio sisudo que me fizeram nos dois metros de largura da ruela.
Geez…i’m sorry.
Nunca mais gozo com os vossos Europinhos. Pelo menos aí. Prometido.
Sejam lá bregas à vontade...
Nem sequer me lembrei que não era preciso elas entenderem o que eu disse para entenderem o que quis dizer.
As praias estavam pelas costuras. O tempo, ainda que sem uma nuvem no céu, estava menos azul do que da última vez. Não nos demorámos muito por lá.

Em Torremolinos, as cerejas eram a vinte euros/kg.
Eu sei, eu sei. “Cerejas…uma coisa que cá não há.”
Epah…é bom comer cerejas quando o objectivo do dia é nenhum senão o comer cerejas.
Vinte euros.
Mas DELICIOSAS.
Porquê cerveja com tanta cereja aqui?

À noite, jantar e descanso nos quartos.
Adormeci sem querer a ver o Fiorentina-Bayern (a televisão, sempre a televisão). O acordar muito estremunhado uma hora depois com o som de chapinhar na água vindo da casa de banho e uma das melhores histórias de sonambulismo de sempre do meu fraterno camarada de apartamento. Depois de uns resmungos muito mal humorados (sim, porque agora estou muito bem disposta, mas na altura não achei piada nenhuma), regresso ao sono, ao calor do quarto e ao CSI Miami dobrado. Não por essa ordem necessariamente. Não entendo qual é o problema na espinha do Horatio Caine. Não deixa, no entanto, de ser refrescante saber que estamos mais avançados no que toca em episódios.

Dia 2 – 2 de Maio, efectivamente. Sexta-feira.

7:35 Despertar. Metade da água disponível gasta a tentar acertar a temperatura. A outra metade, no duche per se. Boa sorte ao próximo.

8:15 Pequeno-almoço. Seja aqui, seja na China o meu pequeno-almoço das férias é sempre lo stesso: flocos em leite. Com chocolate, parfois. Menina Margarida faz batota e acrescenta ao leite dos cereais uma dose generosa de café. Efeitos a comprovar na anomalia do dito e feito do dia.^^

9:15 Saída do hotel El Pinar em direcção a Granada. Dia limpo. Fé no bom tempo.

Algures às 10:00 Chegada a Granada. A entrada em Granada faz-se ao som de ABBA e a defender a tese “aproveita porque o Ricardo Araújo Pereira é uma espécie de Eça de hoje”.

Granada é uma boa surpresa. O centro, concentrado em torno da catedral, é uma profusão de ruelas e becos, alguns com espaço para duas pessoas de cada vez, inundados por lojas e lojas e lojas e lojinhas com muitos brilhos, dourados, medalhas, cabedais e cheiro a camelo. Eu gostei.

Desconhecia, nesta minha profunda ignorância, que o 2 de Maio em Espanha tem um significado especial. Ao que parece festejam-se as figuras da terra. Sem tirar nem pôr. Homenageiam-se os tipos e tipas que levaram o nome da terra (seja ela Madrid ou Benalmadena) a camadas mais altas da atmosfera.
Em Granada, homenageava-se uma velhota que era apenas indicada como “autora”. Do quê, não sei.
Festejava-se, segundo as minhas palavras da altura, “o vigésimo centenário da morte da velha” que, na verdade, morreu nos anos 80.
As homenagens eram ligeiramente bizarras.
Grandes altares no meio da rua que, aparentemente, comportavam tudo o que as pessoas tivessem em casa. Alguidares, garrafões, cestos de verga, pratos, as plantas lá da rua, as plantas lá de casa…

Granada era ainda um bonito poço de surpresas à espera de se mostrarem…

Escusado será dizer que dei uma volta pelas duas direcções.
Fiz uma espécie de Spiritual Wrestling. Ou Mud Enlightenment. Não sei.
Na catedral, infiltrei-me num grupo de italianos para conseguir uma visita guiada. Estava muito bem até perceber que era a única pessoa com menos de 65 anos naquele grupo.

Algures às 14:00 Almoço em Granada, depois de breve passeio.
O almoço foi uma magnífica paella mixta (i.e., carne e peixe) no restaurante Gallio, na Plaza Bib-Rambla. O inicio ainda foi preocupante – em plena hora de almoço o restaurante estava completamente vazio. Acabámos por descobrir que os clientes estavam todos na esplanada. Ainda assim, excelente paella.

15 e qualquer coisa: Passeio por Granada, partida à descoberta de Alhambra.
Alhambra é bem catita, uma espécie de Sintra em versão cidade. Claro que não estive dentro da Alhambra cidadela, a lista de espera ali consegue ser maior que (não, não vou falar de cirurgias) a entrada em certos pavilhões da Expo98 todos juntos. Mas do que vi, é catita, sim senhor.

17:40 Entrada em corrida no autocarro sob sirenes policiais com uma breve perseguição dos mesmos ao nosso autocarro.
Eu explico.
Era suposto entrarmos no autocarro numa avenida principal, em frente à catedral, numa das paragens de autocarros. Mas enquanto lá estávamos, pára à nossa frente uma carrinha da Guardia Civil.
Uma dezena de coletes saem apressados, fluorescentes, mesmo na nossa direcção.
Chega a segunda SWAT-Siesta.
A terceira.
A quarta.
Quando já estavam por ali uns quarenta polícias comecei a ponderar as hipóteses – e atenção que sou uma espécie de hipocondríaca do terrorismo (“ok. Pode ser um assalto a um banco. Um gajo barricado num banco. Um gajo barricado num sítio público. Estamos ao pé da catedral. Pode ser um gajo barricado na catedral. Oh MEU DEUS. Pode ser um fundamentalista. Isto aqui é, para todos os efeitos o Al-Andaluz. E o Bin Laden e o Al-Zarqawi fizeram questão de chamar a atenção para isso. Terrorismo? OH NÃO! A ETA ameaçou para este fim-de-semana…”)
Oitenta e tal polícias.
Talvez cem. Exagero? Não sei.
Somos avisados que temos de sair dali. Temos de entrar no autocarro noutro sítio. Oook.
Vamos, apressados, para o outro ponto de encontro entretanto indicado. O problema é que o autocarro parou num local onde não é suposto parar. Uma buzina (os que já tinham atravessado a passadeira começam a andar apressadamente para entrar no autocarro), duas buzinas (começam todos a marchar muito muito depressa para o autocarro), três buzinas (já todos corremos para o autocarro e gritamos para os de trás para se mexerem), quatro buzinas, cinco buzinas, seis buzinas, uma avenida inteira a buzinar, sirenes da polícia, o autocarro já em andamento e gente ainda a entrar.
Os idiotas da polícia perseguiram-nos. Até perceberem a outra operação policial a decorrer no local onde era suposto entrarmos.
O que se passou afinal para toda aquela carga policial?
Aparentemente, uma manifestação espontânea numa rua paralela à avenida onde estávamos originalmente à espera.
Uma manif. Espontânea. Pah.

17:55 Paragem numa Galp, já fora de Granada. Estão 33ºC. A Sierra Nevada lá ao fundo é uma clara provocação de Deus.

19:35 Chegada a uma Torremolinos levemente nublada.

19:40 Tempo para breve – ou não tão breve – duche. E choramingar por causa da grande bolha no meu pé direito. Ainda assim, enfiei os pés nos saltos altos. Bem…cunhas. E muito confortáveis. Que, curiosamente, afinal não protestaram por causa da bolha.
19:55 Jantar. Para variar (abençoado self-service), massa com molho de tomate. Milho com molho rosa. Uma saussicha. Um santo petisco.

21:00 Partida para o salão do hotel. Animada ocupação do mesmo.


00:00 Abandonar do salão, depois do espetáculo de sevillanas e portugueses que não agradou aos franceses por quem, ironicamente, fomos tomados. Europa, europe... A velha era qualquer coisa. Vi 80 pessoas a dançar a Macarena. Fascinada, como sempre, quando não consigo fugir da imagem.

Dia 3 – Surpreendentemente, literalmente, 3 de Maio – Sábado

06:45 Despertar. Descoberta parva (mas não por isso menos interessante) de que o nosso telefone não toca para o despertar porque não o temos – o telefone.

07:30 Pequeno-almoço: cereais, leite, chocolate. Infalível.

08:10 Depois de dupla confirmação de BIs, saída às oito em ponto para Ceuta. Dia de céu limpo, esperança no bom tempo.

09:35 Chegada ao porto de Algeciras

09:45 Saída em Algeciras – ferry, afinal, não é as 10 mas às 11.

10:45 Check-in, escolha de lugares nas entranhas do monstro que é o ferry entre Algeciras e Ceuta.

11:00 Saída de Algeciras em direcção a Ceuta.


Por falar em entranhas, houve muitos que descobriram as suas. A viagem entre Algeciras e Ceuta ainda é grandinha e envolve um quase alto mar. As casas de banho estiveram sempre ocupadas – na verdade, houve experts no assunto que fizeram a quase uma hora de viagem dentro da casa de banho. À chegada, na tonalidade havia de tudo: do cinzento pérola ao verde escuro. Quem? Eu? Eu não enjoo pah. Isso é para meninos. Bem. Para dizer a verdade, fiz a viagem de pé sem tirar os olhos das ondas (que estavam bem bonitas). Porque fosse eu sentada e sem ver o mar e também o meu tom ia variar entre o verde pérola e o cinzento escuro. A viagem foi passada toda ela agarrada às ondas ( mar alto (L) ) que ora eram rocha agora já sou onda agora sou rocha agora sou onda e eu, alienada como sou, fui o tempo todo a anotar mentalmente “olha agora é onda, não, agora é rocha, não, onda, não, rocha, onda, rocha…”).
Sabem qual foi a primeira coisa que vi de Ceuta? A primeira, a primeiríssima, a minha primeira imagem de solo africano? Um LIDL…

Quase meio-dia Chegada a Ceuta. Partida à exploração do comércio local. Desilusão total. Por cá, também há Zaras e Stradivarius e Bershkas e Pulls and Bear e tutti tutti tutti. Muito vento e pouco calor. Ainda assim encontro-o, perfeito, único, exactamente o que estava à procura e nunca tinha conseguido encontrar – um quase keffiyeh rosa clarinho e branco. Palestina yeyy!

13:55 Sentar à mesa do Ulisses Hotel para o almoço. Louça, como habitual em território espanhol, imaculada (um imaculado do género “copos com marcas de baton no hotel em Torremolinos que eu prontamente troquei com os da mesa do lado vazia, dali a vinte segundos ocupada mas ninguém se queixou”).

15:20 Fim do almoço no Ulisses Hotel.

15:35 Passeio de autocarro por Ceuta. Visita a um miradouro. Consciência de que estamos numa quase quase quase ilha. No miradouro, um monumento do bigodes espanhol. Aparentemente, partiram dali umas forças para a guerra civil espanhola. A guia, espanhola de Ceuta, diz o suficiente para entendermos que ainda subsiste ali um espírito “comichão quando me falam de Portugal”. Hey. Não fui eu quem pôs ali uma estátua do Infante D.Henrique, não tenho a culpa que ainda comemorem o Sto. António, que a padroeira ainda seja a Virgem de África e que o símbolo seja a as armas portuguesas. Se até um monumento do vosso bigodes mantiveram… francamente.

17:30 Fechar das portas do ferry para Algeciras. Já parte tudo bem atestado de comprimidos para o enjoo. Decido ir lavar as mãos à casa de banho. As casas de banho são atrás da Duty Free Shop do ferry. Repeti-o muitas vezes, com o sotaque espanhol em inglês. Não deu. Não resultou (ora tentem lá o vosso melhor sotaque espanhol em inglês – imitar o Javier Bardem não vale – e digam “a Duty Free Shop está colada aos servicios” e depois encolham os ombros e sorriam bastante tempo em silêncio antes de rirem nervosamente perante o incómodo da outra pessoa).
Voltando às casas de banho. Abri a porta e dei com um lavatório entupido de vómito. Pooortanto…os senhores da Duty Free Shop vendem carteiras de marca (finas, requintadas, das boas – i.e., feias) a 70€, 90€, 120€. Paredes meias com um lavatório ENTUPIDO de vómito. Eu cá não acho nada bem. Acreditem ou não, desisti de lavar as mãos.
18:45 Entrada no autocarro em Algeciras. Passou o dia inteiro ao sol espanhol de Verão. Um brasedo em condições. Não há problema. Sempre tive curiosidade em saber qual é a sensação dos hamburguers quando faço batota e os descongelo no microondas.

20:50 Chegada ao hotel. Faltam 40 minutos para o fim da hora de jantar.

21:15 Jantar, depois de uma aturada e exaustiva procura de mesa entre um oceano de japonesas pipilantes e espanholas de folhos.

Algures pelas 23:00 Caminha. O espectáculo no hotel é uma dupla com danças de salão. Par de jarras não é uma expressão que preze mas não há definição melhor. Os senhores foram campeões de Espanha. Há uns trinta anos. Quarenta?
Nah. Caminha que o dia foi comprido. E o regresso é sempre cansativo. E já tenho uma directa de que recuperar em mãos. Faz favor de ter juizinho.

Dia 4 – Dá para acreditar? 4 de Maio – Domingo

07:30 Toc’ácordar.

09:10 Entrada no autocarro depois de um aconchegante pequeno-almoço.

É hora de dizer adeus ao hotel. Já no autocarro, descoberta insólita de que alguns quartos foram durante a noite tomados de assalto por enxames de abelhas.
As abelhas actuaram a coberto da noite, optando pela conhecida estratégia “entrada massiva através do ar condicionado”. O número de baixas entre as heróicas abelhas é, até ao momento, desconhecido mas entrevê-se um desastre apicultário. Equaciona-se que a chegada de mais um grupo de japoneses ao hotel nessa mesma noite tenha despoletado o espírito kamikaze entre os insectos.
Suspiro de alívio ao saber da notícia. Tivesse uma só abelha entrado no meu quarto e eu não teria precisado só do café como de uma dose massiva de Xanax no pequeno-almoço. Cada um com as suas manias. A minha são as abelhas. Não há nada a fazer.

09:30 Partida. Despedida do Hotel El Pinar. E de Torremolinos. Eric Idle na minha cabecinha, de braços estendidos ao longo do corpo e mãos para fora a escarnecer “I love the Costa Brava, I love the Costa Brava”.

11:05 Paragem de novo no El Caserio de Aguadulce, para ver passar um cortejo muito sui generis e para compra de uns regalos.

13:25 Paragem numa Repsol para abastecimento do autocarro e compra da El Jueves, la revista que sale los miércoles. Paixão à primeira leitura. Profunda inveja por não termos cá nada parecido. E por não se vender cá.

13:50 Regresso à viagem.

Regresso à hora portuguesa

13:45 Entrada efusiva em Portugal, atravessar do Guadiana. Desconfiança da minha parte que com tanto aplauso algum japonês entrou acidentalmente no autocarro.

14:25 Chegada esfomeada ao Tintol, em Olhão. Peixe grelhado à descrição. Cheguei ao céu…ao céu.

16:25 Partida de Olhão.

18:45 Partida de uma qualquer estação de serviço depois da foto de grupo. É tãão fácil achar-me...

20:20 Chegada às Covas de Ferro.

Despedida, beijinhos e para o ano há mais.
Ninguém pára a CABINE! ^^

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