quinta-feira, 22 de outubro de 2009

No dia 3 de Setembro, entreguei na secretaria da faculdade o papelinho azul (super-hiper-ultra-violentamente organizado) necessário para requerer o certificado de conclusão de licenciatura. Perguntei à senhora quanto tempo demorava e ela, simpaticamente, disse-me:
"Ah, isto agora leva algum tempo. Um mês, mês e meio. É melhor telefonar primeiro para saber."

E eu agradeci, resignei-me e vim para casa, esperar um mês e meio pelo papelinho.
Foi um mês de espera muito MUITO longo.

No dia 7 de Outubro (quarta-feira), estando eu na faculdade aproveitei para saber se a folhinha A4 já estava impressa, carimbada e assinada. A fila para a secretaria era grande - optei por, ao lado da secretaria, telefonar.
Disse a senhora que me atendeu que "isto está tudo organizado, (estava sim senhora) eu vou fazer-lhe a média mas não posso fazer mais porque quem trata disto é a minha colega e está de férias. É melhor tentar de novo para a semana".
A resmungar com a "colega que está de férias, quem é que vai de férias em Outubro, não há mais ninguém que possa tratar disto" fui embora.

Dia 14 (Quarta-feira) voltei à FLUL. Esperei o meu tempo na fila invejando a competência da senhora a atender o guichet ao lado, o de Mestrados, sempre sem fila. Quando chega a minha vez e pergunto esperançosa pelo meu certificado de conclusão de licenciatura - afinal já tinha passado o máximo de mês e meio - a senhora procura no computador.
"Olhe, a média já está feita (obrigado senhora do telefonema) mas agora falta a minha colega. Tente de novo na próxima semana. E é melhor telefonar antes."
Assim. Sem nenhuma explicação melhor, sem explicar porque razão "falta a minha colega" e que raio de colega era esta.

Ontem (Quarta-feira), mais bem disposta do que qualquer pessoa que tem de lidar com secretarias, telefonei de manhã. No atendimento geral a senhora que me atendeu (onde andam os funcionários públicos do sexo masculino, afinal?) diz-me atrapalhada que a linha da licenciatura está com uma grande fila e que talvez seja melhor eu telefonar mais tarde.
"Eu não me importo de esperar."
"Está certo, vou pô-la em espera, bom-dia."

Cinco minutos de Quatro Estações depois (a sério, onde estava a música dos telefones sem a Primavera? FLUL não esperava algo tão prevísivel de ti), a senhora na secretaria atende-me.
"Bom-dia. Olheeee, eu estou a ligar para saber se o meu certificado de conclusão de licenciatura já está pronto."
* silêncio do outro lado *
"Er... disseram-me que era melhor telefonar antes de ir aí?"
"Certo, diga-me o seu número."
*alguns minutos de confusão numérica por causa da eterna guerra treze/treuze*
"Olhe, o seu certificado já está pronto. Pode vir buscá-lo."
"Está?! Posso ir ai hoje à tarde?!"
"Está sim, pode vir."
"Muito obrigada, bom-dia."

Fui lá - estava na FLUL às 14:40. Meia-hora de fila, depois.
"Boa-tarde. Eu vinha buscar o meu certificado de conclusão de licenciatura."
"Diga-me o seu número."
* alguns minutos de confusão numérica e de troca de identidades em que até me é dito que faltam pagar três propinas, isto por causa da eterna guerra treze/treuze*
"Olhe... aqui está o seu certificado mas falta-me uma assinatura."
"Como assim?"
"Aqui, está a ver?"
A senhora, com um ar muito panhonha, mostra-me o verso do certificado, onde devia estar a assinatura do "Secretário" e o selo branco.
"Então... mas... ninguém pode assinar isso?"
"Não, eu não tenho aqui ninguém que me possa assinar isso."
Fico em silêncio a olhar para a mulher - provavelmente, com um ar algo demente, porque ela acrescenta logo.
"Olhe, eu peço desculpa mas não posso assinar, percebe?"
"Então mas não tem ninguém aí (aponto com a cabeça para a dezena de pessoas que andava lá atrás entre secretárias e dossiers) que assine isso?"
"Não, não está aqui ninguém. Eu não sei deles."
Com um dos melhores risos de escárnio, um perfeito sneer, que tive em anos, pergunto-lhe:
"Não sabe deles?"
"Não, não sei. Eles... não sei. Devem estar...ah...reunidos. Devem estar reunidos para aí, não sei."
"Não sabe de ninguém."
A minha sobrancelha vai ao meio da testa. A resposta da senhora é o gesto que mais me enfurece: encolhe os ombros e murmura "não sei", isto enquanto a fila atrás de mim ia crescendo. A mulher fica em silêncio a olhar para mim, sem me dar nenhuma solução. Eu fico incrédula, à espera que ela pare de encolher os ombros e que faça o trabalho dela: ajudar-me. Nada.
"Olhe... vocês fecham às quatro, não é?"
"É sim."
"Eu passo aqui às cinco para as quatro."
"Está bem. Olhe, passe antes faltando dez minutos para as quatro."
"Está certo".

Vou fazer tempo e barafustar com a secretaria e o encolher de ombros da mulher e os colegas assinadores reunidos no café, como se em três anos eu não tivesse aprendido como aquilo funciona.

Volto às vinte para as quatro. Sento-me nos banquinhos em frente à secretaria (um pouco de pressão).
Quando falta um quarto de hora para as quatro, meto-me na fila. A senhora vê-me e manda-me passar à frente.
Contente, vou. Ela mostra-me o certificado.
"Já está assinado?"
"Já."
"Óptimo."
"Pronto... olhe, agora tem aqui é uma dívida de oito euros."
Eu já conhecia esta dívida. Na minha conta online estava lá essa dívida. As minhas propinas foram sempre pagas certas. Aquela dívida é um erro informático.
Eu olho desesperada para o olhar parado da mulher e digo-lhe:
"É assim...essa dívida não existe. Eu amanhã passo por cá com os recibos para comprovar. Boa-tarde e muito obrigado, sim?"
Cheguei a casa na certeza que hoje ainda ia ter de jogar ao Papel, Pedra ou Tesoura antes de poder trazer o certificado para casa. Devia ter feito como o Ima (campeão!) que ferveu com um encolher de ombros e saiu da Segurança Social "acompanhado" por seguranças.

Hoje, reúno os recibos todos e pesquiso na net a propina de 2006/2007.
Lá consigo encontrar e segundo aquilo que está disponível online, sim, eu paguei quatro euros a menos em duas propinas.
Tenho a certeza quase absoluta que não me enganei e que na altura o valor pedido foi o que paguei - confirmei isto num panfleto da altura que ainda tenho. Os chulos da FLUL criaram uma grande aldrabice. Há três semanas ainda teria dado luta. Agora, desisti.
Enfim, eu só quero o certificado.

Volto lá hoje de manhã.
Para meu bem, atende-me uma senhora consideravelmente mais desenvolta.
"Bom-dia. Eu vinha aqui buscar o meu certificado de conclusão de licenciatura. Eu sei que há aí uma dívida de oito euros de propinas... posso pagar?"
"Isso tem de ser pago no banco."
Passa-me o papelinho das propinas.
"PRÓXIMO"

Vou ao banco com um sorriso idiota nos lábios.
O senhor do banco vê-me entrar com o papelinho nas mãos.
"Bom-dia."
"Bom-dia."
"É para pagar propinas?"
"Sim. Oitos euros."
O senhor do banco sorri e dá-me uma senha. Quinze minutos da minha vida (que jamais terei de volta) são passados ali à espera de vez. Quando finalmente chega ao meu Z 18, vou até ao balcão.
Outro senhor me recebe (então é aqui que eles andam).
"Bom-dia."
"Bom-dia (subitamente o saloio genuíno que há em mim, ao fim de tanta volta, desperta e num tom que dificilmente voltarei a usar na vida assento na mesa, com a palma da mão, o papel de pagamento) Olhe, eu venho aqui saldar uma dívida de OITO euros à Faculdade de Letras."
"Ah. Muito bem."
Faço o pagamento - com moedinhas FLUL, por Deus, com moedas - enquanto o senhor comenta que "eles não perdoam ah-ah-ah".

Regresso feliz à Faculdade de Letras. É agora. É agora que vou receber o meu certificado. Quase que nem há fila para a secretaria e tudo. Quando vejo que ainda é a mesma senhora que lá está e, farta do discurso de "bom-dia, vinha aqui buscar o meu certificado de conclusão de licenciatura" decidi, jovialmente, atirar logo um:
"Voltei!"
* blank stare *
"Er... estive aqui há pouco."
* blank stare *
Os meus ombros descem e suspiro, resignada. Regressa a cassete.
"Bom-dia. Eu vinha levantar o meu certificado de conclusão de licenciatura. Tive de ir pagar uma dívida de oito euros (praticamente atirei o recibo para dentro do guichet)"
"Diga-me o seu número."
* segue-se o clássico circo por causa da confusão entre treze/treuze em que tenho de garantir pela enésima vez que o meu apelido não é Mendes Pacheco e que o meu certificado é de Estudos Europeus, não de História de Arte *
A senhora tira fotocópias ao recibo e ao certificado.
"Assine aqui."
Assino.
A senhora passa-me um papel.
"Está tudo?"
"Está sim."
"MUITO obrigado. Bom-dia."
"Bom-dia. Boa sorte."

E foi isso. Só isso.
Da faculdade até ao metro o que aconteceu dentro da minha cabeça foi uma célebre cena de um tal de Braveheart, em câmera lenta e convenientemente musicada.
Adeus FLUL, fomos muito felizes.

1 Comment:

  1. Violeta said...
    Eu vivi esses momentos também. Muito porque passo horas a falar contigo na net xD
    Agora é esquecer a Flul (comprimidos e álcool) e começar uma vida sem Special Eds lurking.

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