sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Cinematográfico, Cliché e Brutal

Na Biblioteca da FLUL.

Fui das primeiras pessoas a chegar, lá batida às nove da manhã.
Subo enquanto encontrar escadas. Viro-me para o canto de literatura e dou com uma das funcionárias e o segurança a conversar muito alto (“ele está a olhar para cá” , diz ela ao segurança) junto à mesa para onde ia, nas janelinhas batidas ao Sol para o lado da Faculdade de Ciências.
Desisto e subo mais umas escadinhas para aqueles pisos e meio, entalados entre o tecto e o piso propriamente dito. Lá, continuo a ouvi-los e percebo o motivo de tanta agitação. Está um pombo dentro da Biblioteca, provavelmente entrou por alguma janela. Muito provavelmente.
De onde estou não o vejo, porque o tecto destes pisos e meio está uns metros abaixo do tecto do piso propriamente dito, mas ouço por duas ou três vezes o pombo passar ao meu lado, mais alto, no tal corredor batido ao Sol do piso, lá bem alto.
Ao fim de uns dez minutos desistem de o apanhar e durante uns minutos faz-se silêncio absoluto na biblioteca.
Subitamente…começo a ouvir lá ao fundo um arrulhar desesperado.
A aproximarem-se, umas asas a baterem muito depressa, mais depressa, o barulho é cada vez maior e mais próximo. O pombo desta vez vem muito baixo e está tão perto. Vou conseguir vê-lo, está prestes a passar mesmo ao meu lado.
Olho para o lado, para as traves de cimento pintado do tal corredor alto batido ao Sol, no meio da barulheira do pombo.
Ouço um baque surdo, um “crucru” dolorido e faz-se um silêncio sepulcral. E cai devagarinho uma pena preta a brilhar ao sol.
Chorei, sufocada com o riso e desesperada por ter sido a única pessoa a ter visto aquilo.

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