segunda-feira, 18 de junho de 2007

[Este é um post comprido. Quem não gosta, passa por cima.]


Dois dias por esse país acima. Foi quase-quase perfeito.
Porquê quase-quase?
Um quase pelo mau humor do tempo, particularmente no primeiro dia. Chovia quando estávamos na rua, fazia um sol radioso quando entrávamos encharcados no autocarro.
O outro quase pelo facto de ter passado mais de 48 horas completamente afónica.
Sábado começou cedo. Mais propriamente às quatro da manhã. Acho que foi inteligente da minha parte ter ficado até à uma e meia a implicar com o trabalho de Geografia.

Liguei a televisão (não é defeito, é feitio). Dei por mim, de madrugada, com umas olheiras bem marcadas e um bloqueio mental habitual desses primeiros dois minutos de quase cá-quase lá entre o sono e o acordado, a perguntar a quem estivesse ali para ouvir (meia dúzia de peluches): "a TVI pôs mesmo uma ex-BB a apresentar um concurso de chamadas às quatro da manhã?". A pergunta era estranha e ninguém me respondeu. Acho que ainda foi uma visão de quase-lá.
Quatro e meia, encontro no café. Pequeno almoço, chuva miudinha lá fora e o Pedro (o nosso, já habitual, motorista) nada.
Cinco.
Cinco e meia. Autocarro. Vamos. MP3 alto para não ouvir a música da CidadeFM.


Sete e meia da manhã (acho - as horas são uma coisa que esqueço facilmente, especialmente àquela hora...). Paragem na estação de serviço do Pombal. Acabei de ler o livro que tinha começado à coisa de uma hora atrás. Passo dois minutos furiosa. Qualquer pessoa teria entretenimento para todas aquelas horas de autocarro. Para mim nem uma miserável hora. Não sei qual foi a minha ideia de trazer "qualquer coisinha leve".Para a próxima trago Tolstoi.

Vamos. Afinal já não paramos na Figueira da Foz. Chove.
Segue, segue, segue...
Dormito, durmo, babo-me... O MP3 continua alto. Muito alto. Quantas pessoas só conseguem dormir num autocarro com o MP3 no máximo? Eu, o Beethoven,..
Acordo. Saídas para C.de Paiva. Saídas para Entre-os-Rios. Lembrei-me nesta altura que ganhei um pavor a pontes.
"Quantas pontes tem o Porto mesmo?"
Ninguém me ouve. Maldita garganta.

Estamos quase a chegar ao Porto. Fomos ultrapassados quatro vezes por uma carrinha com um contentor de obras. Tem uma placa no vidro como os camionistas. Anuncia o "Pouca-Sorte". Ele lá sabe. Chove. Apetece-me conversar. É dificil. A voz está por um fio.
Chegámos ao Porto. Chove. Primeira paragem: Estádio do Dragão.
Já tinha passado por lá, nunca tinha parado. Nunca estive num sítio tão confuso. O autocarro deu voltas e voltas, viadutos, estradas paralelas, curvas, pontes, saídas,...
Chegámos. Chove. Quem quiser temos aqui à direita o centro comercial Dolce Vita. Quem preferir, aí está o Estádio do Dragão à esquerda.
Chovia. Fui primeiro ao centro comercial.
Zaras, Bershkas e Stradivarius é coisa que não há cá em baixo. Vamos lá ao Estádio.
Dei a volta completa ao estádio do Dragão.

Não é dos meus favoritos. É muito...arejado.
Apesar de tudo, é um Estádio bonito. O passeio justificou os pés encharcados.
Foi giro encontrar uma dependência do BES no Estádio. Não sei se estão bem a ver, mas a publicidade do BES é "VERDE SOU EU". O efeito num sítio onde tudo é e tem de ser azul, acaba por ser caricato.
Depois do Dragouem, o destino seria Gaia. Uma voltinha pelo El Corte Inglés e tal. (Sim, porque cá por baixo também não há disso.) Já era tarde, o dito cujo já estava fechado.
Meio-dia, temos fome. Vamos lá almoçar a S. Félix da Marinha.
O nome do restaurante? Não me lembro. Tinha mesmo muita fome e a comidinha era boa.
Chovia. O passeiozinho pela praia ficou adiado.


À tarde, voltámos ao Porto. O destino eram as caves do vinho do Porto. Ferreira.
Chovia copiosamente. Cá fora. Não lá dentro.
As caves do Porto são impressionantes. Pipas e pipas e pipas de vinho. Algumas são gigantescas, levando milhares de litros de vinho.

O cheiro em certos corredores é bastante vincado.
A guia deve estar muito habituada a fazer visitas em inglês.
Não podia evitar um sorriso sempre que a ouvia enumerar as categorias de vinho do Porto.
Ruby, branco e Tony. Aka Tawny.
Depois da visita às entranhas do vinho do Porto, passámos à prova dos ditos.
Não bebo. Mas Porto branco é bom. Fresquinho, fresquinho, fresquiiinho.
E lá voltei, feliz e alegre à chuva, ao autocarro.
Passámos então a uma visita à cidade do Porto.
Aquilo de que já desconfiava, pude confirmar. O Porto seria uma cidade assombrosa, não estivesse tão votada à sujidade, à velhice e ao abandono.
Depois de uma voltinha no autocarro, lá saímos, para dar outras voltinhas ali na zona da Baixa. A chuva estava finalmente a tentar a paz.

Eis senão quando me deparo com um cartaz do novo espetáculo do La Féria, no Rivoli. E fui a rir-me histéricamente até à Rua. de Sta. Catarina.
É mais forte do que eu.
O La Féria está a fazer o Jesus Cristo SuperStar.
...(risos, risos, risos)
E isto no meio do Quim Roscas & Zeca Estacionâncio. Está lá.
A Rua de Sta. Catarina e as transversais estão no meio de obras. Ou melhor, as obras estão no meio da rua. Bem...é dificil definir, as obras estão em toda a parte e parecem brotar da terra.
Fomos obrigados a seguir em fila indiana, a subir e descer degraus de lojas, com os pés enlameados.
Subo um degrau, quase dentro da loja, olho para o lado e continuo a andar. Mas...mas..é uma FNAC?
E pronto, lá fui (quase) ao chão.
A rua de Sta. Catarina (assim como o espaço envolvente) primam por uma filosofia que parece em extinção em Lisboa. As ruas estão feitas para as pessoas andar. Não os carros. As PESSOAS. GENTE. Gente por todos os lados.
Turistas, como nós, mirones a observar o cano que rebentou e que encharcou os trabalhadores das obras, habitantes em passeios de sábado à tarde,...
O Majestic. O Majestic é bonito. O Majestic é muito bonito.
De volta ao autocarro, partimos para o hotel.
Foi giro ver os barcos na Foz. O meu favorito era o "Panascal".
À chegada à Póvoa do Varzim a chuva voltou. Em força.
Imaginem.
Uma cortina de chuva. Cem metros entre o autocarro e o hotel. Quarenta e tal pessoas, algumas das quais muitas cañas depois, que têm de tirar as malas e percorrer à chuva e sem cair o piso escorregadio que nos separava do hotel.
Imaginem. Imaginem o lindo estado em que ficaram os meus cor-de-rosinha.
Enfim. Há sempre um secador à nossa espera. Uns banhos e umas roupas quentinhas depois, estávamos todos como novos.
No bar do hotel, encontraram o Paulo Gonzo.
Actuava no Casino da Póvoa, ali ao lado do hotel (o hotel era do casino).
O nosso próximo destino?
A Quinta da Malafaia.
A Quinta da Malafaia. Não sei por onde começar.
A Quinta da Malafaia é um delírio cómico de Kafka, um cruzamento entre Monty Python e Zé Povinho.
O meu primeiro pensamento quando entrei na Quinta da Malafaia foi: "morri, fui para o Céu e Deus tem um sentido de humor insuperável".
À entrada eles prometem o "maior arraial minhoto do país".
Era o dia de abertura.
O tempo não era um problema, uma vez que era num [gigantesco] espaço coberto.
Lá dentro entre 2000 e 3000 pessoas. O espaço é tão cheio, de gente, de cores, de pormenores que a tontura é imediata.

O cheiro a sardinha faz-me pensar na minha roupa e em Skip.
A minha mesa era a 113.
Cada pessoa tem direito ao seu próprio jarro e copo de barro, servindo-se nas pipas.
As regras da Quinta pedem para não levarmos os jarros para casa. "Temos detectores", avisam. Sim, claro. Detectores de barro.
O vinho, sob o patrocínio de S.João Baptista, é à descrição.
O resultado são momentos hilariantes protagonizados por maiores de 60.
Cada um vai buscar a sua comida.
Nada pára
Existem três palcos, dezenas de pessoas a dançar. Os que estão lá há mais tempo, sozinhos.
Há palhaços, mascotes da Quinta, ranchos, cantares ao desafio.
Já estámos muito influenciados pelo cheiro da sardinha quando discutimos e concordámos que o artista popular que actua naquele momento soa exactamente a Blasted Mechanism.
Depois há uma banda que circula pelo meio dos foliões (como são descritos no folheto das regras da Quinta) vestida de Galos de Barcelos. Há uma banda no terceiro palco e seis bailarinos dividos pelos dois palcos.
Há jovens que se sucedem no palco a cantar medleys do Festival da Canção.
Cantaria com eles, mas continuo muda.
Há palhaços em andas que se misturam no meio dos que dançam.
Há gente que não sabe dançar e dança.
A música é ensurdecedora.
Ainda tenho na cabeça o "ó senhora da boouuuua hooooora".
Há cabeçudos e duplas cómicas a actuar em palco.
Momentos parados ou de silêncio? Impossível.
Há balões no tecto à espera do grande final, à sorteios, leilões, panos no tecto como no circo, luzes de natal, lâmpadas coloridas em rodas de carroça pintadas nas colunas, candeeiros de papel, balões de papel, bandeiras, fitas folhudas, instrumentos de lavoura pendurados na parede,...
Quando fomos embora estavam os músicos da Praça da Alegria à espera para entrar em palco. Ao que parece, também havia marchas. Protagonizadas por nós, visitantes. Era só agarrar nos arcos. Prometem que dura até ao amanhecer e eu acredito.
De volta à Póvoa do Varzim, houve quem tenha ido dormir, quem tenha ido dar uma voltinha por ali.

Seja como for, todos nos deitámos cedo. O dia foi comprido.
No segundo dia partimos de manhã cedo para Braga.
A saída do hotel, foi como a entrada. Sob chuva.
Bastou entrarmos no autocarro para abrir um sol radioso.
Partimos para Braga, para visitar o Bom-Jesus.
Primeiro uma paragem junto ao Estádio de Braga.
Passámos pelo verdadeiro "Bragaparques".
Houve quem tenha descido o Bom-Jesus a pé. Optei pelo elevador. Vale a pena, a viagem é curta mas com um toque de radical.
Subi o Bom-Jesus de Braga. Sou grande. Ali, aqueles degraus todos, de uma ponta à outra.

As capelas ao longo do percurso são diferentes de tudo o que já tinha visto, representando um a um todos os momentos da via sacra, com estátuas em tamanho real e realistas q.b.
Depois de Braga, partimos uma vez mais para S.Félix da Marinha, em busca do almoço.
O restaurante é a dois passos da praia. Sai-se do restaurante para a areia.

Hoje o tempo estava bom. Deu para passeios na praia. Só eu sei como gosto de praias vazias. Mas vazias mesmo. Sem idiotas a torrar ao sol, sem cães a correr como parvos, sem ninguém. Uma praia enorme à nossa disposição. Apetecia-me gritar, mas nem as Mebocaínas tinham salvo a minha voz. Vi pelo lado bom e lembrei-me da Pequena Sereia.
Provei porque sou uma criancinha. Trouxe alguns quilos de conchas para casa.


E fiz arte na areia.
Depois, começamos a descer.
Entre Braga e casa, estações de serviço fora, já só paramos em Coimbra.
Em Coimbra, encontramos o Derlei junto ao Portugal dos Pequenitos. Fez sentido.
Visitei o Convento de Santa Clara-a-Nova (ooouuuroooo) e o Convento de Santa Clara-a-velha. Lindissimo, este último.
Coimbra é, aliás, pródiga em coisas curiosas.
Como este:


Ou este, um pormenor de um contentor do lixo:

Coimbra foi a última visita.
Depois já só paramos em algumas estações de serviço. Numa delas comprei um belissimo Kinder Bueno de chocolate branco. Bueno.
O resto do caminho foi feito no autocarro a ver vídeos com "Dez anos de Marradas nos Açores". Um best-of de gente parva que se mete à frente de animais grandes e ligeiros com cornos.
Chegámos por volta das nove horas. Depois de arrumar tudo em casa, acabámos a comer pregos e bitoques em Belas.
Agora? Agora, vou fazer o trabalho de Geografia. Para o ano há mais.
E ninguém pára a Cabine.

3 Comments:

  1. Subterranian \ Ultravioleta said...
    São 3 e 38 da noite quando começo este comentário. quando a escrita já se esgotou e não há luz suficiente para se ler e nenhuma garrafa de whisky está aberta em casa, comenta-se, suponho eu.

    a tua viagem. e o que eu tenho a dizer sobre ela.

    a chuva não é um factor mau. a chuva é bonita, lava pouco, mas limpa bem. (think about it). esse livro parece-me caca. tolstoi era capaz de ser melhor, emboran unca tenha lido. lê verne ou baudelaire. Estádio do dragao. nunca o vi á minha frente. mas - e sem ser tendencioso - há melhores em portugal, pelo menos em estetica. mas desgosto em geral de todos os estadios de futebol. tal como a grande maioria da arquitectura moderna ocidental. a oriental, isso já é outra história. Quanto á publicidade do bes verde. o estadio do sporting tb tem uma grande mancha azul por causa do barclays. ou tinha. só o benfica é k mantem a coerencia ca vodafone. mas dps tb lixa tudo com o cor-de-rosa. vinho do porto. eu não gosto de vinho. mas vinho do porto é diferente. é a sério. não é espectacular, mas bebe-se. tal como o vinho da madeira. aquele de setubal, é que já é meio roscoff. o la féria é um otário e aponto-o como um dos culpados pela morte do teatro em portugal. (que de resto já estava moribundo desde o gil vicente).

    o porto.

    estive muito pouco tempo no porto. numa madrugada. não tive tempo como gostaria de conhecer bem a cidade, e algumas das pessoas. mas pareceu-me bonito. muito. o douro é fantastico, bem mais belo que o tejo. pelo menos foi a noçao com que fiquei. gostei bastante de passar junto ao rio. e de um jardim onde estive. não lhe conheci o nome infelizmente.

    quinta da malafaia. não sei mek concordaste com isso.

    braga. braga é muito bom. novamente, estive lá pouco tempo. em dois dias. nos dois esperava sempre durante umas horas um autocarro. ainda conheci uma boa porçao da cidade, e da parte mais antiga, creio eu.

    (este comment começa a ficar aborrecido, sao agora 3 e 50)

    coimbra idem. cidade muito fixe. visitava algumas vezes qd era puto. tenho pena de já não o fazer.

    e vivó kinder derretido.

    enfim. fica bem. e come chop chop do melhor ao por-do-sol com uma mosca a chatear o ouvido.

    kudus
    Unknown said...
    Só agora vi ... mas tá muito bem explicado o que foi a nossa viagem. Pró ano tens muito mais para escrever. Ceuta espera por nós. Vamos mudar de continente. Vamos até Africa. NINGUÉM PÁRA A CABINE !!!
    flower_power said...
    yeaaaah!
    xD
    NINGUEM, NINGUEM PÁRA A CABINE! =)

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