quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Não, o helicóptero dos bombeiros falhou o alvo...

Corria desatinado.
Corria sem se importar com a chuva que lhe escorria pelos cabelos e lhe toldava o límpido olhar.
Corria arquejante pela rua, trovejava, os relâmpagos fulminavam o ar, azulando o céu eléctrico.
Corria rua fora, sem querer saber da tempestade, sem a notar. A mão encharcada escorreu ao bolso. Estava lá dentro. Viscosa, viva, sobrevivente. Agarrou com firmeza, empunhou-a ao céu. A chuva limpava o sangue, que lhe escorria pelos dedos, deslizando nos pulsos, até aos cotovelos, de braço em riste erguido ao alto.Matara-o.
Os seus medos, as suas falhas que sempre fingira para não admitir que não as tinha. Matara-os. E agora corria.
Corria, fugia de quem ainda não o descobrira.
Chegou a casa. A casa dela. Ela iria abrigá-lo.
Bateu à porta.A trovoada rebentou no seu punho fechado, o céu ecoou na porta dela, o sangue escorria-lhe pelas mãos, a água pelo rosto.
Assustada, ela correu e abriu a porta.
Ele tremia. De raiva, de alívio, de frio, de medo.
Ela sem uma palavra, agarrou-lhe no braço e puxou-o para dentro. Fechou a porta, abafando a fúria cega do céu, lá fora.
Ele não disse nada.
Ela olhava-o, angustiada sem causa. Via-lhe a confusão nos olhos, a água que lhe escorria ainda na cara, lágrimas ou chuva, pouco importava.
A água que lhe escorria para o braço, pelas veias fora em sobressalto. Sangue.
Olharam-se em silêncio. Ela tinha de saber.
- Então? Está a chover lá fora?







Só para dizer que há um certo tipo de perguntas que me tira do sério. Só isso.
E que estava a chover. Muito. E eu estava de chinelos. E...enerva-me. Quase tanto como as pessoas que estacionam no lugar dos deficientes. Só porque estão mais perto da porta.

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